O primeiro trimestre de 2025 foi marcado por transformações regulatórias relevantes e por desafios macroeconômicos que impactaram diretamente o desempenho financeiro do Banco do Brasil (BB). O resultado do 1T25 traz não apenas números abaixo do esperado, mas também o reflexo de uma nova era contábil com a entrada em vigor da Resolução CMN 4.966/21.
Neste artigo, você encontrará uma análise aprofundada dos principais destaques do trimestre, com foco em lucro, crédito, inadimplência, margem financeira, captação, capital regulatório e impactos das novas normas contábeis. Tudo com o objetivo de ajudar investidores e analistas a compreenderem melhor o desempenho do banco.
Lucro Líquido Ajustado: Queda relevante no trimestre
O Lucro Líquido Ajustado do Banco do Brasil no 1T25 foi de R$ 7,37 bilhões, uma queda de 20,7% na comparação anual e 23,0% em relação ao 4T24. Já o lucro contábil ficou em R$ 6,77 bilhões.
Essa redução reflete a adaptação às novas regras da Resolução CMN 4.966, que alterou a forma de reconhecimento de receitas de juros, perdas esperadas com crédito e diferimento de receitas de serviços.
Margem Financeira Bruta: Impactos da Selic e da nova norma
A Margem Financeira Bruta (MFB) totalizou R$ 23,88 bilhões, recuando 7,2% na base anual e 10,9% na trimestral.
Principais fatores:
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Selic mais alta: aumento de 300 bps entre dezembro/24 e março/25 afetou negativamente o custo de captação.
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Descasamento de indexadores: ativos majoritariamente prefixados vs. captações pós-fixadas.
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Nova regra contábil:
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Apropriação de juros de inadimplentes passou de 60 para 90 dias (+R$ 200 milhões).
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Operações em estágio 3 passaram a ter juros reconhecidos apenas no regime de caixa (impacto negativo de -R$ 1 bilhão).
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Custo do Crédito: Pressão vinda do agronegócio
O custo do crédito alcançou R$ 10,2 bilhões, com alta de 18,9% em 12 meses e 9,6% no trimestre.
Motivo principal:
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Agronegócio: inadimplência atingiu 3,04%, pressionando as provisões, principalmente devido à safra 23/24 e à judicialização de contratos.
Receita de Serviços: Efeitos da mudança contábil
As receitas de prestação de serviços somaram R$ 8,36 bilhões, praticamente estáveis em relação ao 1T24 (+0,2%), mas com recuo de 9% no trimestre.
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O novo modelo contábil determinou o diferimento de R$ 400 milhões em tarifas de crédito, agora reconhecidas ao longo do tempo na MFB.
Despesas Administrativas: Controle e estabilidade
As despesas administrativas totalizaram R$ 9,5 bilhões, mantendo-se estáveis em relação ao 4T24. Destaques:
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Despesas com pessoal: R$ 6,32 bilhões (+0,6%)
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Outras despesas administrativas: R$ 3,17 bilhões (-1,3%)
Carteira de Crédito Expandida: Crescimento em todos os segmentos
A carteira de crédito expandida atingiu R$ 1,278 trilhão, alta de 14,4% em 12 meses e 1,1% no trimestre.
Segmentação:
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Pessoa Física: R$ 335,8 bilhões (+6,6% A/A | +1,2% T/T)
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Destaque para o crédito consignado e o novo “Crédito ao Trabalhador”.
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Pessoa Jurídica: R$ 459,9 bilhões (+22,4% A/A | +1,6% T/T)
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R$ 141,3 bi em grandes empresas
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R$ 123,8 bi em MPMEs
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R$ 74,6 bi em clientes do governo
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Agronegócio: R$ 406,2 bilhões (+9,0% A/A | +2,1% T/T)
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R$ 174,5 bilhões desembolsados nos 9 primeiros meses da safra 24/25.
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Qualidade da Carteira: Inadimplência em alta
O índice de inadimplência acima de 90 dias subiu para 3,9%, um aumento de 96 bps em 12 meses. A cobertura do INAD+90d ficou em 184,8%, ainda sólida, apesar da deterioração.
Indicadores de Capital e Rentabilidade
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Índice de Basileia: 14,14%
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Índice de Capital Nível 1: 13,27%
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Capital Principal: 10,97%
Esses indicadores reforçam a solidez do BB, mesmo diante das exigências adicionais da nova contabilidade.
Rentabilidade:
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ROE: 16,7% (vs. 21,7% em 1T24)
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ROA: 1,2%
Projeções 2025: Guidance revisado
Em comunicado de 15/05/2025, o BB informou que revisará as projeções para:
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Margem Financeira Bruta
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Custo do Crédito
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Lucro Líquido Ajustado
As projeções de crescimento de crédito, receitas de serviços e despesas administrativas permanecem:
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Carteira de crédito total: crescimento entre 5,5% e 9,5%
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Pessoa Física: +7% a 11%
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Empresas: +4% a 8%
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Agro: +5% a 9%
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Receita de Serviços: entre R$ 34,5 e R$ 36,5 bilhões
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Despesas Administrativas: entre R$ 38,5 e R$ 40,0 bilhões
Conclusão
O 1T25 do Banco do Brasil foi marcado por transições importantes, com efeitos contábeis significativos que dificultam a comparação direta com trimestres anteriores. Ainda assim, o banco demonstrou resiliência operacional, com crescimento da carteira de crédito e manutenção da solidez patrimonial.
Para investidores, é crucial acompanhar os próximos trimestres, à medida que os impactos da nova regulamentação forem sendo absorvidos e que os efeitos sazonais forem dissipados.